Na Escola de Maria

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04/05/2011 - 00:00

O mês de maio, que nos convida a olhar para Maria, na vivência do Mistério Pascal que estamos celebrando, é uma boa oportunidade para aprofundar o capítulo sétimo da Carta Pastoral de Dom Odilo. Trata-se da paróquia como comunidade formadora de discípulos. Maria, a grande missionária, é “formadora de missionários” (cf. DAp, 269).

São várias as necessidades de formação apontadas na Carta, desde as mais básicas de iniciação à vida cristã e superação do “analfabetismo religioso em nossa Igreja”, até as mais aprofundadas para a preparação de agentes de pastoral para os vários ambientes da sociedade e das culturas.

A teologia do Vaticano II favorece uma linha da espiritualidade que se inspira em Maria como modelo de fé e um sinal do Reino, para além do aspecto devocional. A Lumen Gentium pede aos teólogos e pregadores que estudem e expliquem “como convém as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a verdade, santidade e piedade... E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes” (LG 67).

Maria, mãe de Jesus Cristo e Mãe da Igreja, é a discípula perfeita do Senhor, por isso é também Mestra da formação dos discípulos em sua missão. Nela se deu a “máxima realização da existência cristã como um viver trinitário de ‘filhos no Filho’” (DAp 266).

Realizou a missão que Deus Pai lhe confiou de educar e acompanhar o filho Jesus até o sacrifício definitivo de sua vida. Realizou a missão que seu filho lhe confiou de acompanhar os discípulos representados em João, ao pé da cruz, e estava com os discípulos no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo confirmou a Igreja para continuar a missão de Jesus Cristo.

Por isso, os bispos em Aparecida reafirmaram que a vida de Maria é um testemunho vivo do discípulo que vive em comunhão com Cristo, reconhecendo-o na vida da comunidade. “Como na família humana, a Igreja-família é gerada ao redor de uma mãe, que confere “alma” e ternura à convivência familiar. Maria, Mãe da Igreja, além de modelo e paradigma da humanidade, é artífice de comunhão” (DAp 268).

A carta de Dom Odilo reafirma esta dimensão da vida de fé, lembrando que a comunidade é lugar de encontro com Deus. A paróquia é o espaço normal onde os batizados vivem sua condição de discípulos de Jesus Cristo, expressam sua fé e se organizam para viver a caridade e testemunhar a esperança. É o lugar onde fazem a experiência pessoal e comunitária do encontro com Deus por meio de Jesus Cristo, no dom do Espírito Santo. O individualismo, muito forte de nossa cultura atual, leva muita gente a dizer que não precisa da comunidade para encontrar-se com Deus, pois a gente pode encontrar-se diretamente com Deus sem precisar da Igreja. Mas não foi isso que Jesus pregou, pois Ele disse que “onde dois ou três estivessem reunidos em seu nome ele estaria no meio deles”, e não foi isso que vemos na vida de Maria!

Além de ser lugar privilegiado para viver a fé, a Paróquia é lugar também onde o fiel cresce na fé. A paróquia tem, portanto, a missão de formar todos os batizados nos caminhos do Evangelho, para que permaneçam fiéis e unidos a Cristo e à Igreja e se tornem, de fato, missionários do Evangelho para o mundo.

Inspirada em Maria, a paróquia promoverá a formação dos discípulos missionários na escuta e no anúncio da Palavra, na vivência sacramental e no caminho da santificação, e no serviço comprometido da caridade. Uma citação de Aparecida mostra justamente como Maria é mestra em cada uma dessas dimensões! Em Maria “a Palavra de Deus se encontra de verdade em sua casa, de onde sai e entra com naturalidade. Ela fala e pensa com a Palavra de Deus; a Palavra de Deus se faz a sua palavra e sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, assim se revela que seus pensamentos estão em sintonia com os pensamentos de Deus, que seu querer é um querer junto com Deus. Estando intimamente penetrada pela Palavra de Deus, Ela pode chegar a ser mãe da Palavra encarnada” (DAp 271). “Com os olhos postos em seus filhos e em suas necessidades, como em Caná da Galiléia, Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho. Indica, além do mais, qual é a pedagogia para que os pobres, em cada comunidade cristã, “sintam-se como em sua casa”. Cria comunhão e educa para um estilo de vida compartilhada e solidária, em fraternidade, em atenção e acolhida do outro, especialmente se é pobre ou necessitado. Em nossas comunidades, sua forte presença tem enriquecido e seguirá enriquecendo a dimensão materna da Igreja e sua atitude acolhedora, que a converte em “casa e escola da comunhão” e em espaço espiritual que prepara para a missão” (DAp 272).

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
e Vigário Episcopal da Região Sé