O Mistério Pascal no Tempo da Igreja (I)

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14/05/2013 - 00:00

Estando no tempo pascal, e aproximando-nos da celebração de Pentecostes, damos sequência à reflexão de temas da fé, com base no Catecismo da Igreja Católica, refletindo sobre o Mistério Pascal no tempo da Igreja.

A tradição da Igreja, desde os Santos Padres, utiliza os termos “economia da salvação” e “economia sacramental” para expressar vivencialmente mistérios da fé. A economia como ciência consiste na análise da produção, distribuição e consumo de bens e serviços, mas é uma palavra de origem grega que significa administração da casa (oikos= casa; nomos= costume ou lei, ou administrar).

Assim, a Igreja utiliza a expressão “economia da salvação” para que compreendamos melhor o mistério da Santíssima Trindade em seu “desígnio benevolente” (Ef 1,9) sobre toda a criação: “o Pai realiza o mistério de sua vontade entregando seu Filho bem-amado e seu Espírito para a salvação do mundo e para a glória de seu nome”. Cristo realizou plenamente este desígnio pelo mistério pascal de sua paixão, ressurreição dos mortos e ascensão gloriosa. Morrendo, destruiu a morte e ressuscitando, recuperou nossa vida.

O Mistério Pascal está no centro da nossa fé. A fé em Cristo ressuscitado transforma nossa vida e dá um sentido novo para tudo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé; ainda estais em vossos pecados. (…)  Se temos esperança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens. Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram. Com efeito, visto que a morte veio por um homem, também por um homem vem a ressurreção dos mortos” (1 Cor 15,17.19-21).

A experiência do encontro com o Senhor ressuscitado confirma os apóstolos na fé e os lança à missão deixada por Jesus de anunciar o Evangelho a todos, convidando à conversão e inserindo os convertidos no mistério da vida nova em Cristo, pelo batismo e pelos outros sacramentos.

A expressão “economia sacramental”, por sua vez, traduz a realidade da comunicação dos frutos da redenção de Cristo na vida da pessoa, mediante a celebração dos sacramentos da Igreja, entre os quais se destaca a Eucaristia. A liturgia atualiza em nossa vida o mistério de Cristo, pela ação do Espírito Santo. A segunda parte do Catecismo nos introduz no sentido e vivência do Mistério Cristão celebrado na Liturgia, agrupando os conteúdos em duas seções: a economia sacramental e os sete sacramentos da Igreja. No próximo mês trataremos especificamente dos sacramentos.

“A liturgia é a celebração do Mistério de Cristo e, em particular, de seu Mistério Pascal. Na liturgia, pelo exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo, por meio de sinais, é significada e realizada a santificação dos homens, e o Corpo místico de Cristo (Cabeça e membros) exerce o culto público devido a Deus” (Compendio n. 218) . A Liturgia é, portanto, ação de Deus santificando os homens, e, ao mesmo tempo, louvor e ação de graças ao Pai, e pedido do dom de seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo.  

A Liturgia nos faz vivenciar antecipadamente o que viveremos na glória eterna, permitindo-nos participar ativamente na comunhão dos santos. Lembrando o Concílio (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 8), o Catecismo da Igreja Católica  ensina que “na Liturgia terrestre, antegozando, nós participamos da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos” (n. 1090).

Neste espírito, o Catecismo ressalta a preferência à celebração comunitária com relação à individual ou quase privada, porque o rito comunitário expressa melhor o caráter eclesial de toda celebração litúrgica (Cf. CIC, n. 1140): “é toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra”, e isso se refere a toda celebração litúrgica, mas se vivencia melhor na assembleia comunitária, de modo especial no sacrifício eucarístico que representa a expressão máxima da unidade da Igreja.

O Catecismo registra também como a Igreja celebra, descrevendo os sinais e símbolos, as palavras e ações da celebração litúrgica, o Ano Litúrgico, o Dia do Senhor, os locais de celebração, e recorda a função que cada batizado desenvolve dentro da comunidade, de acordo com o seu estado de vida: ministros ordenados (bispos, presbíteros e diáconos), ministérios litúrgicos particulares (sacristão, coroinha, leitor, salmista, acólito, comentaristas, ministros extraordinários da sagrada comunhão, músicos, cantores, etc.) cuja tarefa está normatizada pela Igreja, ou determinada e especificada pelo bispo diocesano.

Reconheçamos a Liturgia e aproximemo-nos dela como “cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, fonte donde emana toda a sua força” (SC 10), para crescer no caminho de santidade iniciado em nosso Batismo.

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo
Vigário Episcopal da Região Sé