O Papa e a fé

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12/04/2013 - 00:00

O acontecimento da renúncia de um Papa e da escolha de outro, chamaram a atenção do mundo inteiro. Para nós católicos, neste ano da fé, foi um acontecimento importante também para o aprofundamento e a renovação da fé. As orações da Igreja, pedindo ao Senhor que indicasse o seu escolhido,  contrastavam com as especulações internas e também externas à Igreja, guiadas por outros critérios meramente humanos. A escolha inesperada de Francisco foi acolhida como uma clara manifestação da ação do Espírito Santo na Igreja.

Tamanho interesse pelos acontecimentos, levavam também à pergunta: mas, afinal, o que é o Papa para os católicos? Qual a sua missão?

O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, "é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis" (CIC 882). “Cristo, ao instituir os Doze, "instituiu-os à maneira de colégio ou grupo estável, ao qual prepôs Pedro, escolhido dentre eles. Assim como, por disposição do Senhor, São Pedro e os outros apóstolos constituem um único colégio apostólico, de modo semelhante o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, estão unidos entre si“ (CIC 880).

A primeira missão do sucessor de Pedro é Professar a fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, e confirmar os irmãos na fé.

O ministério petrino se fundamenta na profissão de fé. O evangelista Mateus relata o diálogo de Jesus com seus discípulos. Pergunta-lhes: “quem sou eu para vocês”? Simão Pedro se adianta e responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus então lhe diz: “Feliz és tu, Simão, … porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não poderão vencê-la” (Mt 16,15-18).

A firmeza da fé não é atributo apenas da pessoa e de suas qualidades. Pedro mesmo teve suas fraquezas e negações, mas o Senhor o sustenta. Lucas narra este testemunho de Jesus: “Simão, Simão! Satanás pediu permissão para peneirar-vos, como se faz com o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos”! (Lc 22,31-33).

Para São Paulo, confirmar os irmãos é anunciar-lhes generosamente o Evangelho, fazendo-se o servo de todos (o Papa é chamado de Servo dos Servos do Senhor!), a fim de ganhar o maior número possível de pessoas para Cristo.

A segunda missão prioritária do Papa é ser expressão do amor de Cristo para com todos, reunir a todos na comunhão para o seguimento do Senhor. “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes”? É a pergunta repetida três vezes por Jesus, antes de entregar-lhe o ministério de pastor do povo de Deus. À resposta, por três vezes afirmativa, o Senhor entregou confiante a Simão o cuidado do rebanho. Depois disse que ele deveria consumar sua vida nesta entrega de amor. “E acrescentou: Segue-me” (Cf. Jo 21,15-19). Na tradição da Igreja, o apóstolo Pedro é modelo na profissão de fé e no amor. O amor é o distintivo dos cristãos, como é ressaltado nos Atos dos Apóstolos: “Vede como eles se amam”; e na carta aos Romanos: “O amor é a plenitude da lei” (Rm 13.10). Por isso, o amor será sempre o distintivo do sucessor de Pedro. Amor que se desdobra sobre toda pessoa humana, com carinho de predileção para com os mais pobres e necessitados. O Papa deverá confirmar os irmãos no amor gratuito e desinteressado a todos.

Como decorrência do amor, o Papa deve ser sinal de comunhão e de unidade, daquela unidade querida por Jesus e deixada como um testamento, na última ceia: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).

E assim deve ser nos dias atuais. É assim que acolhemos com alegria o novo sucessor de Pedro, o Sumo Pontífice, que nos confirmará na fé e no amor.

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo e
Vigário Episcopal da Região Sé

Publicado no Boletim Testemunho, ed. Abril 2013