Trabalhadores para a colheita do Senhor

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08/08/2012 - 00:00

Há uma passagem no Evangelho que tem um significado muito especial para o tema das vocações. O texto em questão encerra a seção na qual o evangelista Mateus apresenta como Jesus, o Messias, anunciou o início do reinado de Deus com palavras e ações. O Sermão da Montanha foi confirmado por sinais e milagres, e o poder libertador de Jesus atraiu uma multidão de pobres e necessitados. Como responder à busca do povo? É dentro desta moldura que Mateus relata a escolha dos doze apóstolos e o seu envio para a missão.

Voltemos ao texto para haurir dele inspiração para a sua atualização em nossos dias:

"Jesus começou a percorrer todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando todo tipo de doenças e de enfermidade.
Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos:
A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita" (Mt 9, 35-38).

Mateus faz questão de ressaltar a compaixão de Jesus pela multidão que o acompanhava, "porque estavam cansados e abatidas, como ovelhas que não têm pastor". O próprio Jesus convida os discípulos a terem a mesma compaixão, dizendo-lhes: "A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita".

Jesus sente falta de trabalhadores para a colheita. Diz que são muitos os chamados e poucos os escolhidos. Afirmação um tanto misteriosa, pois se é Deus quem chama, porque os chamados não são automaticamente escolhidos? A escolha depende da resposta do discípulo. O discípulo é qualificado para a missão quando "ouve os ensinamentos do Mestre" e "testemunha seus sinais". Como dirá o apóstolo João: "O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam da Palavra da vida... isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos" (1 Jo 1,1-3). A resposta depende, portanto, do encontro com Cristo e da identificação com o seu Reino. Há um processo de purificação de intenções, de qualificação do discípulo para a missão. É dentro deste processo que são escolhidos alguns entre os muitos que são chamados. Foi assim que Jesus procurou envolver outras pessoas e escolheu algumas para a missão.

Jesus convida à oração pelas vocações. A vocação é chamado de Deus. Ao suplicar vocações, queremos entrar no coração de Deus, compartilhar de sua paixão pelas pessoas, comungar de seu desejo para que o Reino seja acolhido por todos, reconhecer que Ele é o protagonista de toda a missão. A oração nos permite contemplar o Plano de Deus, e assumir seus critérios na tarefa de anunciar o Evangelho. Com Jesus, uma noite inteira de pesca em vão é compensada em um momento de pesca milagrosa.

A oração pelas vocações é sinal também de compromisso com o projeto de Deus, pois quem reza pelas vocações manifesta consciência das necessidades da missão, e manifesta desejo de contribuir para o despertar e o engajamento de novos discípulos missionários. Deus não depende de nossas orações para suscitar novas vocações, mas necessita de trabalhadores para fazer acontecer o seu Reino. Por isso, chamou e enviou seus discípulos para a missão. Por isso, continua a chamar e a enviar novos discípulos nos dias de hoje. Ao rezar pelas vocações nos comprometemos também com o trabalho vocacional e na preparação de novos missionários.

São tantos os necessitados! E aumentam sempre mais, porque é enorme o número dos que precisam de Jesus. Por isso, Ele diz: "A messe é grande, mas os operários são poucos!" É preciso pedir ao Senhor que não deixe faltar trabalhadores capazes de sentir compaixão pelo povo, pessoas sensíveis às suas necessidades, pessoas disponíveis para o anúncio do Evangelho e o serviço aos irmãos.

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
e Vigário Episcopal da Região Sé