Uma cruz passou em missão pela cidade

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14/10/2011 - 00:00

O Bote Fé teve também seu efeito missionário. A Cruz da JMJ e o Ícone de Nossa Senhora passaram pela cidade de São Paulo e foram instrumentos da graça do Senhor que passa e vem ao nosso encontro. Será que todos nos demos conta de sua força missionária? No processo de renovação das paróquias este acontecimento foi uma grande oportunidade! 

Houve significativa participação e envolvimento, especialmente de jovens. Sentimos o pulsar de muitos corações, a emoção, a alegria, o reconhecimento pelo amor de Cristo manifestado na cruz. Muitos jovens recobraram ânimo e se aproximaram mais de Cristo e da Igreja!

Mas não passou despercebida também a indiferença e a anomia de outros, não excluídos alguns agentes de pastoral e até sacerdotes! Não conseguiram ler os sinais dos tempos neste momento. E isso faz pensar, pois o tempo não pára, “a caravana passa!”, e o bonde da história também. Faz lembrar o questionamento de Jesus: “Com quem vou comparar esta geração? É parecida com crianças sentadas nas praças, gritando umas para as outras: "tocamos flauta para vós, e não dançastes. Entoamos cantos de luto e não chorastes"" (Mt 11,16-17).

E assim muitas outras coisas acontecem, quebrando os esquemas traçados para o nosso dia-a-dia. O sol brilha, alternando-se com a noite, mas os dias são sempre diferentes. Nem sempre percebemos a beleza que se esconde nos caminhos que percorremos cada dia. A rotina pode nos impedir de ver as flores no caminho, o novo nascendo, e até a perspectiva de novos caminhos que se abrem. E desistimos de caminhar e de buscar, pois não saímos mais do cercado de nossa casa. Quando não tivermos mais horizontes, nossa esperança morre, e com ela morre nossa alma!

Os jovens escolheram um nome sugestivo para o site do Setor Juventude: “jovens conectados”. É preciso estar conectado para ler os sinais dos tempos. Estar conectado com o nosso tempo, estar conectado com a Igreja, com a cidade e com a sua vida, com seus acontecimentos, com as pessoas e suas buscas, é condição para responder aos desafios da missão. 

Este questionamento é feito por Jesus: “Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. Quando sentis soprar o vento sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. Hipócritas! Sabeis avaliar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis avaliar o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?” (Lc 12, 54-57).

O tempo presente ao qual Jesus se refere não é o tempo cronológico, mas o tempo existencial. Os contemporâneos de Jesus não conseguiram decifrar os sinais do Reino presentes Nele. Talvez tenha faltado a capacidade de contemplação, ou estavam muito seguros de si mesmos e de seu mundinho. Por isso, eram incapazes de conversão. Jesus encontra mais abertura em outros: “os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no reino de Deus” (Mt 21,31).

A profecia de Jesus tem muito a dizer para nós hoje, e queremos aplicá-la ao apelo de transformação das paróquias como um sinal do nosso tempo. Sem conversão pessoal e pastoral não entraremos na dinâmica que o Espírito Santo está suscitando neste momento.   

Um dia proclamamos a nossa fé no batismo. Muitos fizeram também a profissão religiosa, outros entregaram a sua vida como presbíteros, e fizeram também a promessa de viver o celibato, outros fizeram juramento de amor e de fidelidade no matrimônio. Foram momentos fortes em que disseram sim ao chamado do Pai para trabalhar na sua vinha. Mas depois, o que aconteceu? O que está acontecendo neste momento? São perguntas da missão que não querem calar na vida dos discípulos.

Os novos tempos exigem pessoas novas, renovadas, encarnadas e comprometidas. O mundo de hoje precisa de pessoas que testemunhem Jesus Cristo, de discípulos que mostrem com a própria vida a verdade e a beleza do evangelho, que dêem razão da própria fé e da própria esperança com a vida que vivem. 

Uma cruz passou em missão pela cidade, anunciando que Ele está vivo e que continua amando e se entregando para que todos tenham vida em abundância. Crês nisto?

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Bispo Auxiliar de São Paulo
e Vigário Episcopal da Região Sé